segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre "voz" e "violão" (ou, o Fragmento 106)

 Antes de você começar a ler, deixe-me fazer algumas considerações, sim? ok, lá vai:
1- Uma pessoa tem que ganhar a vida, não discuto isso.
2- Gosto é algo que não se discute... Mas ninguém falou NADA sobre "lamentar".
3- Não tenho a intenção de ofender NINGUÉM, então deixe de ser chato e tenha um pouco de esportiva, ok?




Pronto, uma vez feitas as considerações iniciais, vamos para o pau.

Eu odeio "voz e violão". Não, espera, deixa eu dizer de outra forma: eu odeio "voz e violão" MEDÍOCRE (o que é o motivo de eu sempre usar aspas para esse tipo de prática nesse post). Entenda que não é somente pelo fato do cantor ter uma voz ruim, ou o fato do violão estar, em algumas oportunidades, desafinado e eu ter baixa tolerância com som desafinado. Num é nada disso, minha raiva se concentra no repertório escolhido para uma happy hour... SÃO SEMPRE AS MESMAS CANÇÕES.
Eu me sinto incomodado com o fato de na maioria das vezes que tive de encarar um barzinho com "voz e violão" o safado tirar da cartola os mesmos "coelhos", as musiquinhas grudentas que tem riff fácil, igualmente grudento, e que são fáceis de se tocar no violão.
Quando um grupo de amigos se reune, e no meio da bebedeira um puxa o violão e o povo começar a cantar, tudo bem, afinal, o teu amigo num tá sendo pago p/cantar, a ele fica o direito de desafinar, esquecer a letra ou até mesmo esquecer a batida da canção, é só gréia, então tá tudo certo. Mas você ir para um bar, e ouvir um desgraçado (desprovido de graça) tocar no teu pé do ouvido a noite toda e você ser, meio que, "obrigado" a pagar o couvert "artístico" (se bem que tem alguns nesse mundo de James Brown, o grande, que merecem), aí já é outra história.

Vejamos o que eu já ouvi dos caras que fazem "voz e violão" pela cidade.
Sente o drama:

Palpite - Vanessa Rangel: A canção fez MUITO sucesso por conta de uma novela, em mil novecentos e BOLINHA. Ainda tem gente que escuta e acompanha, nada contra você ouvir em casa, mas que dá uma certa vergonha alheia ao ouvir a canção, ah isso dá! fora que a musica é melancólica, é PÉSSIMA p/se ouvir com dor de cotovelo, principalmente se teu objetivo é afogar as mágoas numa mesa de bar, depois de tomar um pé no sentador: é um tal de você tentar apreciar um bom whyski e e de repente ouvir "E aí, será que você volta, tudo a minha volta, é triste." ... É de você tomar a dose de whyski de uma vez só e pedir a GARRAFA p/tomar no gargalo de tanta tristeza, fora o fato que a canção é um corta tesão FODA para a "azaração", num dá p/se chegar porque a canção não tem BALANÇO  p/se chegar.

Pais e filhos - Legião Urbana: legião é a Meca para os que fazem "voz e violão", e "Pais e filhos" é tipo Mohammed, o profeta! sofre do mesmo mal de Palpite: evite se estiver triste e esqueça a azaração, num vai rolar. E olhe que eu CURTO Legião, mas num suporto mais ouvir "Pais e filhos". Legião tem INÚMERAS outras canções, canções lindas,  mas o povo só fica no "feijão com arroz", só as que foram hits.
"ah, radar o cara variou, num tocou Pais e filhos. Tá vendo você errado?"
... e o que o cara me toca? SERÁ!
¬¬, dá praticamente na MESMA!

Final Feliz - Jorge Vercillo: me encontre UM que num tocou isso e eu lhe mostro alguem que num conheçe a arte da "voz e violão", o MESMO mal das duas anteriores: evite se morgado, num vai rolar beijo de boca.
só que é nessa canção que os "voz e violão" usam para impressionar, e também onde rolam os maiores berros: "MEU AMOR, DEIXE O TEMPO SE ARRASTAAAAAAR, SEEEEEEM FIIIIIIM."... eu já te ouvi mermão, num precisa gritar. Eu juro que vou acreditar no final feliz, mas pelamordeJamesBrown, num berra mais que você tá num MICROFONE!!!

Como eu quero - Kid Abelha: Hora de botar romantismo na noite (mais?), então é hora de Kid Abelha. Uma bela canção, mas muito melhor se ouvir entre 4 paredes do que num ambiente aberto, com um copo de qualquer coisa em mãos e olhando para o jogo de futebol pela tela de 32 polegadas, pela falta do que fazer. O pior é ouvir as "adaptações", afinal, num fica bem um HOMEM pedindo: "tira essa bermuda que eu quero você serio"... aí o retardado me solta um "tira essa saia, que eu quero você seria"... tive taquicardia, meus membros não responderam por aproximadamente 57 segundos.

Lenha - Zeca Baleiro: tenho meus problemas com o Zeca, é um bom interprete, mas num curto muito as composições dele. Sempre em uma canção dele tem uma frase que me deixa PUTO, em Lenha ele já começa: " Eu não sei dizer, o que quer dizer, o que vou dizer"... num sabe o que quer dizer, malandro? DICIONÁRIO! Mas Lenha é uma bonita canção, a culpa é minha por não conseguir apreciar Zeca apropriadamente. No mais, Lenha sofre do mesmo estigma: evite se morgado, área de azaração: nula.

Meteoro - Luan Santana: Kid Abelha num empolgou, mas Zeca fez o povo cantar junto, então é hora de ir para os sucessos do momento. O homem me saca um Luan Santana, a batida no violão fica mais forte, mas as batidas do meu coração diminuem, vão a ZERO, aí os membros não respondem e eu sou considerado clinicamente morto por exatos 2 minutos e 27 segundos. Mas enquanto ninguém nota, o povo se anima, canta junto, bate na mesa p/acompanhar. Eu fico deitado, inerte... e babando horrores.

Garotos - Leoni: Curioso, eu sempre saio quando toca essa, juro, é como se meu corpo estivesse em ressonância e já soubesse, a partir de algum alinhamento astral que o cidadão vai soltar esse lugar-comum.
A mulherada adora essa canção, eu até curto, mas já me saturou até os malditos ossos. Se Pais e Filhos, da Legião é Mohammed, Garotos, do Leoni é Alá em pessoa, um refrão fácil de cantar junto e uma batida que permite ao povo levantar os braços, com isqueiros e celulares em mãos (eu JÁ VI disso, acreditem) e fazendo "uhuull".
... Eu? eu já tô do outro lado da porta saindo, oras.

Aí o que você vai me dizer? "ai, Radar você é um chato! barzinho num é p/você azarar, mas ficar sentado, tomando alguma coisa e conversando com os amigos, a musica tem que ser calma mesmo, affff!"

Nada contra, sem neurose, até curto ficar sentado batendo um lero com os aliados ao som de uma musiquinha mais calma... mas por que tem que ser as MESMAS CANÇÕES???
Eu num tô pedindo p/ele meter um dance (se o cara fizer isso munido somente de um violão... caralho, o cara é fodão!), mas que o cara ME SURPREENDA!
Eu vou ser, meio que, "obrigado" a pagar o couvert "artístico" p/um cidadão que desfilou na minha frente tantos clichês que eu fiquei zonzo. Num quero nada demais, apenas que ele toque algo fora dos lugares comuns, a galera nem internacional mais toca... É só clichê na moleira.

Custa o cara trabalhar um pouco mais o repertório e, mesmo usando os lugares-comuns de forma pontual, surpreender? Num tô pedindo p/não tocar as canções descritas acima, é mais algo do tipo "use com moderação", num funciona com bebida? então...





Gustavo Radar, certa vez foi a um barzinho em Itajaí onde um tocador mandou um Marvin Gaye seguido de Ben Harper e Jorge Benjor, e depois mandou um Jamiroquai, ele pagou o couvert artístico e ao sair apertou a mão do homem.








terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre a jornada eletrônica de Gustavo Radar, parte 1 (ou, o fragmento 050)

Vamos do começo, sim?
Era 1997, a MTV ainda era Music Television, e tocava de tudo, era um pouco nova na terra brasilis e não tinha ainda uma programação fechada, então ela bombava a programação com coisas de fora.  Nos comerciais, tinha aquelas paradas nonsense que até hoje tem na MTV, mas... Passavam também pedaços de shows.

... É exatamente AÍ que começa a minha jornada eletrônica!

Moscou, Praça Vermelha, 1997. Uma banda de musica eletrônica, de nome Prodigy, resolveu fazer um show e mudou a minha vida por completo.  A porrada vinda do som dos caras me arrepiou até a alma, e fiquei sem ação. Funky Shit (lembro como se fosse hoje) foi a primeira canção que ouvi.
Só James Brown, O grande, sabe quanto tempo eu fiquei em frente a TV, esperando enlouquecido por mais um pedaço daquele show, daquele som novo, daquela galera pulando apesar do frio russo... O Prodigy tinha feito o que nem Napoleão tinha conseguido: venceu o general inverno e botou a Rússia de joelhos!



Enlouqueci, pirei na batatinha e decidi comprar um CD dos caras (hoje se baixa um cd fácil, fácil… Mas vai tentar fazer isso em 97!). Bem, eu esperei uns 2 meses p/que chegasse alguma coisa nas lojas da cidade, foi quando começaram a chegar os singles, comprei por R$ 12,50 meu primeiro CD: Firestarter.



E isso foi só o começo, ainda vinha mais por aí. ^^


Manchester Black
Gustavo Radar reassistiu, com lagrimas de emoção, ao show do Prodigy em Moscou, foi o gatilho que detonou esse post.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobre retornos de busão (ou o Fragmento 210)

“Certo, sem problemas, eu tô no centrão mas chego aí de duas da tarde, valeu?”
era pelo menos umas 11:30 da manhã, estipulei um horário tão elevado não por conta dos engarrafamentos, constantes na Veneza brasileira, também não foi a demora do transporte coletivo, que cobra caro por um serviço de qualidade duvidosa, tampouco foi a quantidade de coisas para fazer no centro do Recife, afinal eu já tinha feito o que tinha ido fazer por lá, a demora se dá pela minha mania de pegar o ônibus fazendo o retorno, passando por dentro da cidade para aí sim, voltar ao subúrbio.

É o momento em que eu me conecto com a minha cidade, observo mais atentamente a rotina dessa metrópole e relaxo ao ver a paisagem se modificando, sim, eu relaxo em viagens dentro do ônibus, talvez até mais  que em meu próprio destino, gosto de me manter em movimento e dentro do ônibus eu não tenho que me preocupar com nada, apenas olhar pela janela do coletivo e ver minha cidade em movimento. nenhum retrato, cartão postal, pintura, xilogravura ou seja lá o que for de Recife consegue me passar o que eu consigo ver em uma viajem de busão.
É uma metrópole em pleno movimento, trabalhadores, patrões, pivetes, mendigos, seres humanos em sociedade num enorme caldeirão de culturas, ver a cidade crescer em todas as direções até o pico das 18:00, a hora do rush. Nesses retornos, eu vejo claramente a cidade respirar, transpirar e tocar cada pessoa que vive dentro dela.
… Os retornos são nada mais nada menos que minha homenagem ao Recife, quando eu, simplesmente com o olhar, digo: “minha cidade, meu caminho, minha morada… Eu te amo”


Gustavo Radar, mesmo com essa mania, dificilmente se atrasa.